quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

There Will Be Blood, um épico banhado em óleo


Plainview e sua fogueira quase apagada:
começo difícil na mineração

Vestido em andrajos, com barba enorme e desgrenhada, um homem se enfia terra abaixo para encontrar algum minério de valor. Os golpes de picareta na parede de pedra desprendem faíscas, mas nenhum tesouro. O homem sobe à superfície. Venta frio no deserto do oeste americano no ano de 1898. Sua única fonte de calor é uma fogueira mirrada que arde a céu aberto, e a esperança de encontrar ouro, prata, ou qualquer minério que o leve a uma vida diferente, cheia de riquezas. Por isso, volta à escavação, embora não seja exatamente o minério que lhe trará prosperidade. 

Império banhado em óleo
Os minutos iniciais de Sangue Negro (There Will Be Blood, 2007), quinto longa-metragem do diretor e roteirista Paul Thomas Anderson, se passam sem diálogo algum – a abertura do filme foi comparada por alguns críticos à sequência “Dawn of Man”, que abre o clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968), de Stanley Kubrick. De certa forma, as primeiras cenas do filme de Anderson, um épico centrado no início da exploração de petróleo no oeste americano, retratam sim o alvorecer de um homem. É ali que Daniel Plainview, interpretado de maneira monstruosa por Daniel Day Lewis, descobre seu próprio “destino manifesto” como um oilman

Batismo de Daniel, uma das condições
impostas por Eli para perfurar na região
Depois de consolidar-se como um explorador de petróleo, Plainview começa sua procura por terrenos baratos e com potencial de perfuração, exatamente o que lhe oferece Paul Sunday (Paul Dano), em uma localidade extremamente miserável e estranhamente chamada de Little Boston. No local, Daniel Plainview não encontra dificuldades em comprar as terras de que precisa. Seu único empecilho é um jovem pregador da Igreja da Terceira Revelação, Eli Sunday, irmão gêmeo de Paul Sunday e também interpretado por Paul Dano. Com um ego por vezes indômito, Eli faz questão de vincular sua igreja ao progresso trazido pela prospecção de petróleo, exigindo rituais como a benção de um novo poço de perfuração e o batismo de Daniel. 

É claro, dessas exigências nasce uma rivalidade entre ele e Plainview, uma espécie de alegoria do duelo travado no começo do século XX entre duas forças proeminentes nos Estados Unidos daquela época: o empreendedorismo capitalista e o conservadorismo da igreja, cada qual com sua dose de desfaçatez. O confronto entre os dois atinge o ápice na cena final do filme. 

Ilustração New Yorker: atuação de
Day Lewis foi premiada com Oscar 
Por sinal, essa sequência final é a escolhida para o Frames para Sempre de hoje. Diferentemente dos trabalhos anteriores de P. T. Anderson, sempre timbrados por seu DNA de produtor independente, esse filme tem uma narrativa linear, com um tema mais convencional – basta lembrar que Boogie Nights - Prazer sem Limites (Boogie Nights, 1997), por exemplo, era uma narrativa sobre a indústria dos filmes pornográficos! O duelo final entre Plainview e Eli resguarda um pouco do estilo de Anderson e sintetiza a relação entre os dois personagens principais do filme. Na cena, situada durante a Crise de 29, Eli procura Daniel em sua mansão para pedir ajuda. Sem dinheiro, planeja negociar a exploração das terras de William Bandy, o único morador de Little Boston cujas propriedades não foram perfuradas por Plainview. Como era de se esperar, Plainview declina o convite, justificando que já prospectou todo o petróleo que havia na fazenda de Bandy através das perfurações que fez ao redor do terreno. Só que, antes de dizer isso, ele finge que ajudará Eli, mediante uma condição: o pastor deve admitir que é um falso profeta e Deus é uma superstição. Humilhação completa para Eli e uma cena imperdível do filme. E, como o título original sugere, haverá sangue!

A trilha sonora foi composta por Jonny Greenwood, multi-instrumentista do Radiohead. Daniel Day Lewis levou os prêmios de melhor ator no Oscar e no Globo de Ouro, enquanto Sangue Negro ganhou como melhor filme apenas o Oscar. Robert Elswit também levou sua estatueta pelo filme, na categoria melhor fotografia. 

Veja a cena do Frames para Sempre de hoje!

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