domingo, 16 de outubro de 2011

Casablanca: uma cena, duas leituras

O primeiro post da seção Frames para Sempre é sobre o indiscutível clássico Casablanca, de 1942. Uma das muitas adaptações bem-sucedidas de Hollywood, o filme dirigido por Michael Curtiz consagrou o triângulo amoroso vivido por Rick Blaine (Humphrey Bogart), Ilsa Lund Laszlo (Ingrid Bergman) e Victor Laszlo (Paul Henreid). No total, foram oito indicações ao Oscar, que resultaram na conquista de três estatuetas – melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado. 

Mas será que Casablanca foi somente um drama romântico puro e ingênuo, seguindo rigorosamente os ditames do Código Hays? É essa a discussão levantada pela “pós-teoria” cinematográfica, uma recente orientação cognitivista nos estudos teóricos sobre cinema que propõe ideias totalmente opostas aos estudos lacanianos sobre a sétima arte. E qual é a resposta destes teóricos sobre Casablanca

Na cena abaixo, a resposta é: o filme apresenta algumas dubiedades, que deixam espaços abertos para interpretações tanto de um público “ingênuo” quanto de outro mais “sofisticado”. Note o que acontece na cena entre os minutos 3’15” e 3’50”. Após Ilsa confessar que ainda ama Rick, os dois se beijam e a sequência segue para um plano de uma torre; passam-se cerca de três segundos e o plano do quarto onde Ilsa e Rick estão aparece de volta, com o segundo na janela, fumando um cigarro. A questão é: esses três segundos fazem parte da diegese do filme ou não? Se não, então não seria óbvio pensar que os dois transaram, o que seria impossível mostrar explicitamente por conta do Código Hays? 

Para os pós-teóricos, a intenção na cena é claramente brincar com essas possibilidades. O plano da torre (objeto fálico) e o cigarro (alusão ao relaxamento pós-sexo) seriam instrumentos utilizados para sugerir o que aconteceu sem atiçar as garras dos censores. E você, o que acha? Dê uma olhada na cena e tire suas conclusões! 

* Se quiser saber sobre os pós-teóricos e outras questões mais “filosóficas” presentes no cinema, recomendo o livro Lacrimae Rerum, de Slavoj Zizek. Contém cinco ótimos artigos do filósofo esloveno.

** Para saber mais sobre o Código Hays, clique aqui


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