terça-feira, 29 de novembro de 2011

Maldito Futebol Clube, por Tom Hooper

Brian Clough cercado pelo elenco do Leeds United: o fracasso do homem dos títulos impossíveis é o destaque de Maldito Futebol Clube


"I wouldn't say I'm the best manager in the business, but I'm in the top one."
Brian Clough


Derby County e Nottingham Forrest são times pouco expressivos no cenário atual do futebol inglês. Ambos estão na segunda divisão e não protagonizam o futebol nacional há um bom tempo. Aliás, se pensarmos em termos de títulos, o campeonato inglês é bastante restrito: o último campeão fora dos quatro grandes – Manchester United, Liverpool, Arsenal e, mais recentemente, Chelsea – foi o Blackburn, na temporada 1994/95, sem contar que o Liverpool não levanta o caneco desde 1989/90. 

Apesar disso, você sabia que o Nottingham Forrest tem em seu currículo dois títulos da Champions League, o que o coloca como o terceiro time inglês com mais conquistas continentais, atrás apenas do Manchester United e do Liverpool? E que o Derby County, com toda sua falta de grife, já foi bicampeão inglês na década de 70? O que uma coisa tem a ver com a outra? O responsável pelas duas façanhas é o mesmo homem: Brian Clough, certamente o treinador mais lendário do futebol na terra da rainha. 

Brian, morto em 2004 por um câncer estomacal, é o personagem central de Maldito Futebol Clube (Damned United, 2009), um filme que, além de contar esses dois feitos, centraliza a narrativa em seu único fracasso; ele não conseguiu domar o ego dos jogadores do multicampeão Leeds Unites, ou “Dirty Leeds”, como queiram. Michael Sheen (Diamante de Sangue, Frost/Nixon) incorpora a personalidade petulante de Clough, sempre acompanhado por Peter Taylor, seu preparador físico, que é interpretado por Timothy Spall, o Winston Churchill de O Discurso do Rei (King’s Speech, 2010). 

Brian Clough com Kenny Burns:
 título nacional em 1978
Não é para menos que Brian Clough fracassou no time de Yorkshire. Enquanto técnico do Derby County, em 1974, Clough tinha como seu maior adversário o grande time do Leeds, que reunia os grandes craques da época e era comandado por Don Revie, inimigo visceral de Clough. A rixa entre os treinadores – que teve início em um jogo da FA Cup, em 1968 – se espelhava no estilo de jogo dos dois times: enquanto o Derby jogava um futebol bonito, com posse de bola e jogadas bem desenhadas, o Leeds era um time de bad boys, bons de bola, é verdade, mas que apelavam quando era necessário e conseguiam estragar qualquer partida que não lhes parecesse favorável. 

Revie, um treinador experiente e respeitado, é uma figura misteriosa. Pouco fala e não responde às provocações de Clough, uma postura que transita entre a arrogância e a indiferença. Isso sempre perturbou muito Clough, que vê uma oportunidade de ouro de desmontar o mito Don Revie quando este é escolhido par comandar a seleção nacional e ele assume seu time, o poderoso Leeds United. Missão na qual fracassa em 44 dias.

Clough e Revie durante uma entrevista
Interessante notar a semelhança entre as personalidades dos papéis de Michael Sheen em Maldito Futebol Clube com outros dois dos seus trabalhos mais recentes: A Rainha (The Queen, 2006), Frost/Nixon (2008). Brian Clough, Tony Blair e David Frost sofrem, de alguma forma, com uma espécie de opressão por parte de pessoas mais velhas, respectivamente, Don Revie, Nixon e a rainha Elizabeth. A personalidade forte de Clough esconde a mesma insegurança que permeia a experiência dos outros dois papéis de Sheen, e com a qual todos eles têm problemas para lidar. Coincidência ou não, Peter Morgan é o roteirista dos três filmes.

Embora seja um retrato favorável da carreira de Clough, sua família rejeitou a homenagem do diretor Tom Hooper. Isso porque o longa é uma adaptação de um livro sobre a vida de Brian que não havia agradado nada à viúva e aos filhos do treinador. Não adiantou muito Peter Morgan dar outro tratamento à história; a família de Clough não quis sequer assistir ao filme. 

De qualquer forma, é ótima a iniciativa de adaptar o futebol para os cinemas, um potencial que tem sido pouco explorado nos últimos anos.

Assista ao trailer do filme:


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