segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Raptado, de Robert Louis Stevenson

O nome do escritor Robert Louis Stevenson é lembrado, na maioria das vezes, quando o assunto é romance ou novela de aventura. Embora essa seja uma simplificação da obra do escocês, pois o autor fora capaz de outros tipos de abordagem, presentes em coletâneas como O clube do suicídio – recentemente lançado no Brasil pela Cosac Naify – e em O médico e o monstro, o rótulo cai bem na análise de um de seus romances mais celebrados, Raptado, de 1886. Afinal, escrito em primeira pessoa, o livro funciona como um diário escrito pelo jovem David Balfour, a partir do momento em que ele deixa a casa dos pais em Essendean, em 1751, para buscar a herança deixada por eles, mortos por uma moléstia misteriosa. 


“Minhas aventuras começam em certa manhã de junho, no ano da graça de 1751, quando fechei pela última vez a porta da casa paterna.” 

Raptado, Robert Louis Stevenson 


O horizonte na nova vida de um jovem de dezesseis anos, filho de um mestre-escola da floresta de Ettrick, parecia promissor. David recebe das mãos do pastor da cidade uma carta de recomendação para a casa de Shaws, próxima a Edimburgo, para viver junto de parentes que ele desconhecia e pareciam levar uma vida muito mais pródiga que a dele em Essendean. Aí começam as aventuras e infortúnios de David. 

David descobre as más
intenções do tio
De certa maneira, pode-se dizer que o destino do jovem protagonista de Raptado não difere muito daquele encarado por seu próprio criador. Nascido em Edimburgo, Escócia, em 1850, Stevenson descobriu aos vinte e três anos que sofria de tuberculose pulmonar, enfermidade que o obrigaria a vagar pelo mundo em procura de boas condições climáticas até sua morte, em 1894. No caso de David, o vetor de suas aventuras foi outro. Ao chegar à casa de Shaws, depois de ouvir inúmeros relatos sinistros e pragas rogadas contra o local, David é recebido grosseiramente, com uma arma apontada pela janela. Incrédulo, o jovem insiste e consegue entrar na casa, e se surpreende ainda mais ao saber que o homem esquelético e mal-encarado que lhe ameaçara era seu tio. 



Trajetória percorrida pelo jovem
escocês
Após algumas horas, David descobre a verdade sobre a casa de Shaws; ela e toda a propriedade em volta são, na verdade, de seu pai, primogênito da família. Por conseguinte, aquela era sua herança inquestionável, e o que seu tio Ebenezer tentava fazer era privá-lo desses bens. Sem tomar as devidas precauções contra as artimanhas do tio, David acaba sendo despachado no navio Covenant, e passa a encarar uma viagem que se desenrola até o final do romance. 

Um dos pontos fortes deste livro de Stevenson é retratar um adolescente camponês de finais do século XVIII sem simplificações, fazendo de um romance essencialmente de aventura uma parábola do espírito de descoberta que impregnava a Europa naquela época de luzes. David Balfour, garoto oriundo do interior da Escócia, conhece o mundo por meio de suas expedições marítimas e descobre que existem outras coisas além de seu pequeno vilarejo protestante. 

Raptado, para quem não lembra, integrou a coleção Literatura em Minha Casa, que distribuiu mais de 60 milhões de livros para estudantes de escolas públicas de todo país. O livro fino, que traz na capa rosa um jovem a ler um livro, deitado, e na companhia de um felino, tem lugar garantido na memória afetiva daqueles que tiveram o privilégio de conhecer as aventuras de David Balfour durante o ensino fundamental – como foi o meu caso! 

Voltando às viagens e desventuras de Stevenson, sua literatura aventuresca reflete em muito o que ele viu durante suas jornadas em busca de paragens que amenizassem sua enfermidade. Em uma das estadas nas montanhas do sul da França, Stevenson conheceu a americana Fanny van De Gritt Osbourne, que já era casada e se divorciou para viver junto dele. No fim da vida, Stevenson morou em Samoa, conjunto de ilhas no sul do Pacífico, onde ele era chamado pelos nativos de Tusitala, ou “o que conta histórias”. 

Além de Raptado, Robert Louis Stevenson escreveu outros romances, contos e novelas, entre eles dois que foram adaptados para o cinema com sucesso: A ilha do tesouro e O médico e o monstro. Um ano antes de falecer, em 1893, Stevenson escreveu Catriona, uma novela que deu sequência a Raptado. Mas esse será assunto para uma próxima resenha.
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