Jean e Nelly emoldurados na janela do bar onde se conhecem |
É nesse local que o soldado Jean (Jean Gabin) encontra refúgio após retornar – não se sabe de onde – em circunstâncias desconhecidas. Seu primeiro guia na nova cidade é um sujeito bêbado vestido em farrapos, que o leva para um bar localizado no meio do nada. Lá, um cenário pouco convencional para uma história de amor, como é típico do cinema francês da década de 30, Jean conhece a jovem Nelly (Michèle Morgan), e os dois, como num passe de mágica, trocam nomes e se apaixonam.
A história de amor que se constrói entre Jean e Nelly – na época, com 17 anos – não sobrepõe em nenhum momento o pessimismo típico dessa fase do realismo poético francês. Em 1938, o cenário político no país não era dos mais animadores. Finda a Guerra Civil Espanhola, o fascismo espraiava sua asa negra pela Europa, preparando o cenário para a Segunda Guerra Mundial. O cinema, é claro, refletiu esse misto de temor e derrotismo que tomava conta da França de então.
Dentro de uma análise mais didática, é possível separar o realismo francês em duas fases com limites cronológicos maleáveis, e abordagens um pouco diferentes. O Cais das Sombras estaria situado em uma segunda fase desse movimento, caracterizada pelo abatimento com relação ao fascismo mencionado anteriormente. Na primeira, marcada pela frente anti-fascista comandada pelos socialistas franceses, os filmes tinham como protagonistas os proletários que lutavam por melhores condições de vida, como em A Regra do Jogo (La régle du jeu, 1939), de Jean Renoir.
Zabel e Nelly, uma relação dúbia |
Tudo é sombra em La Havre |
Embora tenha sido o responsável por dirigir o filme, Marcel Carné (1909 – 1996) sofreu com a posterior “desencarnação de sua reputação e talento”, como definiu o crítico André Bazin. Tido como principal nome do realismo poético pré-guerra, Carné experimentou críticas ferozes da geração seguinte do cinema francês, que tinha como grande porta-voz a revista Cahiers du Cinéma. Principalmente a partir da década de 50, os méritos artísticos de Michel Carné começaram a ser colocados em xeque pelos críticos mais jovens, que revisavam seu trabalho e atribuíam a maior parte dos méritos pelo sucesso de sua obra ao poeta surrealista Jacques Prévert, roteirista predileto do cineasta. Para os críticos da Cahiers, a recriação de bairros da classe trabalhadora, desertores, enfim, todo a construção do proletariado feita por Carné era mistificada, um retrato distante e impreciso feito por alguém que não fazia parte desse contexto social. Quando as críticas arrefeceram, veio o limbo: com o trabalho esquecido e uma produção pós-guerra quase inexpressiva, Carné pouco foi lembrando até morrer em 1996.
De sua obra, merece destaque Boulervard do Crime (Les Enfants du Paradise, 1945). O longa conta a história de um triângulo amoroso mantido por Garance (Arletty), Frederick Lemaitre (Pierre Brasseur) e Baptiste (Jean-Louis Barralt). Eles vivem na Boulevard du Temple, também conhecida por Boulevard du Crime, por ser um local perigoso e com constantes assassinatos. Depois de sete anos, Garance está casada com um homem rico, porém infeliz, enquanto seus amigos e ex-amantes agora são artistas famosos.
Ficha Técnica:
Ficha Técnica:
País: França Gênero: Crime, Drama, Suspense Direção: Marcel Carné Roteiro: Jacques Prévert Produção: Gregor Rabinovitch Design Produção: Alexandre Trauner Música Original: Maurice Jaubert Fotografia: Eugen Schüfftan Edição: René Le Hénaff Figurino: Coco Chanel Efeitos Sonoros: Antoine Archimbaud |
Trailer:
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