Toda lista de filmes sobre jornalismo que se preze não pode deixar de incluir Rede de Intrigas (Network, 1976). Não que retratar o universo das televisões americanas, em especial o telejornalismo, seja o único mérito do filme, longe disso; basta dizer que o longa faturou quatro estatuetas do Oscar. O fato é que a sátira sobre o âncora respeitabilíssimo que, com o despencar da audiência e da sua própria sanidade, passa a ser um freak televisivo sobrepõe qualquer outra coisa.
"Esta é a história de Howard Beale (Peter Finch), apresentador do telejornal da rede UBS. Houve o tempo em que Howard Beale era um manda-chuva na televisão, o poderoso senhor do jornalismo, com audiência de 28 pontos. Mas, em 1969, sua sorte começou a mudar. A audiência caiu para 22; no ano seguinte, sua esposa faleceu. Viúvo, sem filhos, uma audiência agora de 12 pontos. Howard passou a se atrasar, a se isolar e a beber em excesso. Em 22 de setembro de 1975, sua demissão foi-lhe anunciada, com duas semanas de antecedência, por Max Schumacher, presidente do serviço de notícias da UBS.”
Esse é o off - para ficar no jargão televisivo - que apresenta a história de Howard Beale logo no começo do filme. Ajuda a entender o contexto em que se passa a cena que foi escolhida para o Frames para Sempre da semana. O profeta do apocalipse, como fica conhecido depois da guinada em sua carreira, chega na UBS debaixo de chuva para mais uma transmissão. Quando começa a comentar a crise do petróleo, surta ao vivo, mais uma vez.
Na época em que fora informado que seria demitido, quando ainda era o principal âncora da emissora, Beale não suportou a pressão e anunciou ao vivo que cometeria suicídio no jornal do dia seguinte, no que ele entendia como sua última chance de alvancar a audiência. O que de fato aconteceu: os índices de audiência da UBS atingiram os números mais altos dos últimos anos. Atônitos, os diretores da emissora não tiraram Beale do ar. Ao contrário, seguiram a sugestão da diretora de conteúdo da casa, Diane Christiansen (Faye Dunaway), que era, digamos, pragmática - manter Beale no ar, insano ou não, ele representava audiência.
Howars Beale (Peter Finch) levanta-se para declamar seu elogio à loucura |
Difícil é saber quem é mais insano nessa história - a emissora que faz qualquer coisa para alavancar a audiência, Beale que entra no jogo dos patrões e se deixa levar pela pressão de ser o responsável pelo fracasso do telejornal ou os próprios telespectadores, que respondem com interesse à mudança de atitude do canal, com seu freak show. Ao levantar essas questões de maneira tão interessante, o roteiro escrito por Paddy Chayefsky certamente entra para a galeria dos melhores de Hollywood, principalmente por ser um filme comercial, que não costuma tocar neste tipo de assunto espinhoso.
Peter Finch foi o primeiro ator a ganhar um Oscar postumamente - além dele, apenas Huth Ledger ganhou a estatueta depois de morrer, em 2008, por seu trabalho em Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Night, 2008). A direção de Rede de Intrigas é de Sidney Lumet.
Veja abaixo a cena em destacada pelo Frames para Sempre (legendada), seguida pelo trailer do filme (em inglês, sem legendas).
Trailer de Rede de Intrigas:
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