segunda-feira, 16 de abril de 2012

O perigo da memória nazista em O Aprendiz

Esquecer e perdoar: ações que parecem ser inevitáveis para superar grandes traumas e seguir em frente; desanuviar o espírito, se livrar do peso de um passado doloroso. Essa é uma busca difícil, mas é a única alternativa. Será mesmo? O que dizer de um trauma tão grande que chega a ser incomensurável? O que falar sobre a memória do Holocausto, por exemplo? Aquela que levou o pensador judeu Theodor Adorno a dizer que seria um "ato bárbaro" escrever poesia em alemão, o vernáculo nazista, depois do que aconteceu em Auschwitz? Para esse tipo de dano, a vingança parece ser a única saída. 

Entretanto, como se vingar de alguém que não se revela? A memória do Holocausto precisa ser compartilhada para que a vingança – se desejada – se torne viável. Essa é a temática central do filme O Aprendiz (Apt Pupil, 1998), dirigido por Bryan Singer. Um veterano nazista vive tranquilamente nos Estados Unidos, anos após a 2ª Guerra Mundial. Sua tranquilidade, no entanto, é quebrada por um jovem estudante que tem acesso à verdadeira identidade do oficial nazista Kurt Dussender, vivido por Ian McKellen – sim, o mesmo que interpretou Gandalf e Magneto na tela grande. 

O tal estudante, Brad Renfro (Todd Bowden), de posse da memória que o velho alemão tentava esconder, passa a chantageá-lo. Sua intenção é alimentar a curiosidade que nutre sobre aquele passado negro da História ocidental, mas essa gana de saber mais o leva a cometer excessos. Fascinado pelo nazismo, ele passa a visitar diariamente Dussender, quer fazê-lo lembrar do cheiro dos fornos, da agonia dos campos de concentração, em suma, o garoto passa a torturar o velho com sua própria memória. Um jeito sofisticado de vingar-se, mas que pode ser bastante insidioso. 

"Boy, be careful, you play with fire"
Esse processo leva à cena que é lembrada pelo Frames para Sempre de hoje. Brad compra um uniforme nazista para que Dussender se vista a caráter, e a partir daí manda-o marchar, volver, marchar. E o passado relegado aos porões da memória passa a arder, cada vez mais vivo, vibrante, perigosamente vibrante... O velho, aos poucos, incorpora o oficial que ele outrora foi, e o resultado disso é reconstituir uma devoção que ultrapassa qualquer limite, uma devoção assustadoramente inesgotável. Uma cena primorosa! 

O Aprendiz é a adaptação de uma novela homônima de Stephen King, sempre ele, escrita em 1982. Mas chega de descrições, vamos à ação!

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