segunda-feira, 21 de novembro de 2011

V de Vingança, um blockbuster politizado

Em V de Vingança (V for Vendetta, 2006), a Inglaterra é retratada em um futuro despótico. O tirano no poder, interpretado por John Hurt, provém do partido conservador inglês e conseguiu o protagonismo no cenário político após espalhar um vírus em seu próprio país, matando milhares de pessoas que, com medo, acreditaram que a melhor saída seria recrudescer ainda mais o governo. Qualquer semelhança com acontecimentos históricos não é mera coincidência. O filme dirigido por James McTeigue e adaptado da graphic novel de David Lloyd e Alan Moore – que não se envolveu no projeto – é uma provocação. Seguindo os passos de Munique (2005, Steven Spielberg) e Syriana (2005, Stephen Gaghan), é mais um blockbuster que não hesitou em discutir questões importantes e polêmicas, embora não tenha a pretensão de encontrar respostas. 

O personagem principal em V de Vingança não tem rosto, nome, nem mesmo um passado muito claro. A única coisa que sabemos é que ele fora um dos afetados pelos experimentos governamentais que desenvolviam o vírus letal responsável pela morte de milhares de cidadãos ingleses. V, como é chamado, sobreviveu à vida de rato de laboratório e por vinte anos preparou sua vingança, que é o argumento principal do filme. Inspirado em Guy Fawkes, um dos líderes da Conspiração da Pólvora, ele defende uma ideia, expressa numa das frases de maior impacto do filme. “O povo não deveria ter medo dos seus governantes, e sim os governantes terem medo do seu povo”. Só que, para mobilizar as pessoas, V torna-se um terrorista. 

São essas contradições que tornam o filme ainda mais interessante. É claro que se V buscasse apenas punir aqueles que foram responsáveis pelo seu sofrimento, o que ele também faz, teríamos um herói clássico, mas não é essa a proposta. Ao contrário do Conde de Montecristo, filme favorito de V, aqui o herói não quer apenas tomar de volta o que lhe pertence, mas sim um bem público: a esperança, poder de reação contra o governo opressor. 

John Hurt no palanque: semelhança
com convenções nazistas
Sem dúvida, os temas mais quentes ditam o ritmo da trama, principalmente pela reflexão que suscitam. As “coincidências” históricas não se limitam àquelas mencionadas na abertura do texto. Há um padre que paga para ter relações sexuais com menores, um apresentador de TV homossexual que esconde sua identidade para não sofrer coerções por parte do governo homofóbico, terrorismo, falta de liberdade de expressão... É uma miríade de assuntos que instigam o pensamento horas a fio mesmo depois do término do filme. 

Momento "Laços de Família" para
Natalie Portman
E o elenco de V for Vendetta mostra fôlego ao transpor para a tela a tensão presente no enredo. Natalie Portman é Evey, uma jovem funcionária de uma televisão britânica filha de ativistas políticos, que é salva de um estupro por V no começo do filme. Apesar dos problemas com o sotaque inglês, que por vezes parece forçado demais, a atriz consegue emocionar, principalmente na segunda parte do filme, quando passa pela tortura esclarecedora de V. John Hurt, herói na adaptação de 1984 para o cinema, vive um tirano que se comunica com seus subalternos por uma enorme tela futurista que toma conta do cenário, facilitando a expressão de autoridade do ator em cena. Já Hugo Weaving, o ex-agente Smith de Matrix que dá vida a V, não aparece, mas sua voz e presença corporal compõem a personalidade do terrorista mascarado com perfeição. 

Uma das capas da
Graphic Novel
Apesar da forte politização, V de Vingança ainda tem os seus momentos blockbuster. A relação amorosa que se constrói entre V e Evey seria totalmente dispensável, sem falar na cena em que V mata quase uma dúzia de policiais com direito a câmera lenta. Bem no estilo das lutas que Neo tinha com o agente Smith e seus comparsas – provavelmente uma recaída dos irmãos Wachowski, roteiristas e produtores do filme e que também criaram a trilogia Matrix. 

A cena final do filme, na qual V consegue levar a cabo a detonação do Parlamento inglês é, sem dúvidas, a mais contagiante. Não pela pirotecnia da explosão, mas pelos momentos que a precedem. Milhares de cidadãos vestidos com a mesma máscara de V caminham contra uma fileira de militares fortemente armados, que esperam uma ordem da cúpula do governo para abrir fogo. Só que não há mais governo, estão todos mortos. Os soldados, então, baixam as armas e assistem ao ato simbólico de explosão do Parlamento. Afinal, como defendia V, “Este país precisa mais do que um prédio agora. Precisa de esperança”.

Veja o trailer oficial do filme:


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

0 comentários: