sábado, 21 de janeiro de 2012

A música segundo Tom Jobim, uma aventura sensorial pela obra de um maestro

Num show de thrash metal, com ombros desconhecidos espremendo seu peito à exaustão no meio de uma plateia extasiada, o único momento de sossego que se espera é o intervalo entre uma música e outra, quando este existe. Quem estava nessa situação no último Rock in Rio, durante a apresentação da banda americana Metallica, que fechava a noite, se surpreendeu quando da guitarra de Kirk Hammett ecoou um som singular; conhecido, sem dúvida, mas fora de contexto. Era o Samba de uma nota só, do maestro Tom Jobim, que se apresentava aos milhares de ouvidos calejados pelo som pesado que dominara a noite até então. Não havia créditos no telão, ninguém avisou que canção era aquela. Mesmo assim, todos pareciam empolgados ao final do solo de guitarra. Aplaudiram aquele som, genuinamente brasileiro, que ganhou o mundo e naquele momento nos era devolvido de uma das maneiras mais improváveis. Essa é a força da música de Tom Jobim. 

Dora Jobim e Nelson Pereira dos
Santos, durante entrevista sobre o filme
E essa força se expressa no documentário A música segundo Tom Jobim, que estreou na última sexta em circuito nacional, com direção de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, neta do maestro. Assim como no show do Metallica, não há crédito, narração, nenhuma interferência: toda a obra do compositor é perpassada por meio de imagens de arquivo, articuladas de maneira a mostrar dezenas de intérpretes dando suas vozes às músicas de Tom Jobim, intercaladamente, sem cessar, ao longo de 88 minutos. Uma lista que inclui Gal Costa, Elizeth Cardoso, Diana Kral – cantando em português –, o francês Jean Sablon, os norte-americanos Ella Fitzgerald, Sammy Davis Jr., Frank Sinatra e, é claro, o próprio Tom. O trabalho de pesquisa, que incluiu, além do acervo do Instituto Tom Jobim, pesquisas na internet e canais de televisões estrangeiros, contou com a ajuda de Antônio Venâncio, um pesquisador especializado em imagens raras. 

A opção pelo estilo sem narração, trabalhando somente com o acervo de fotos e filmes da família do compositor e os arquivos obtidos pelo pesquisador Antonio Venâncio foi de Nelson Pereira, que possui mais de 20 filmes premiados. “Vi que em cada imagem havia outra história, e mais outra. Era uma história dentro da outra, contando tudo por meio da música”, disse, ao explicar que o material podia, por si só, mostrar a trajetória de Antônio Carlos Jobim (1927-1994). O diretor afirmou ainda que a ausência de créditos dos cantores que aparecem durante o filme ajuda a não dispersar a atenção do telespectador. Para Dora Jobim, que chegou a conviver com o avô e tem experiência na área de DVD’s musicais, coube a tarefa de levantar o extenso acervo fotográfico e imagens da viúva, Ana Jobim. 

E é assim, em estilo exclusivamente sensorial, que A música segundo Tom Jobim consegue mostrar de maneira satisfatória como a música do compositor brasileiro, mesmo sem ter sido pensada para exportação, escrita em português, língua inacessível para a grande maioria, conseguiu se espalhar pelos quatro cantos do mundo. Afinal, como diz o próprio maestro ao final do documentário: “a linguagem musical me basta”.

Veja o trailer do documentário:

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